terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Nota oficial da ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA USO DO CANABIDIOL EM EPILEPSIA

Muito se tem discutido sobre o canabidiol e seu potencial uso para Tourette. Vejam a nota abaixo que esclarece o que se sabe até agora sobre a eficácia em epilepsia. É provável que sirva para tiques, mas ainda não temos casos publicados na literatura científica. Na internet pode haver relatos de sucesso, mas enquanto pesquisadores que se dedicam à pesquisa em Tourette ou à pesquisa do canabidiol não se pronunciarem oficialmente sobre o uso de cbd em ST, não podemos  defender seu uso. Obviamente, em casos graves e refratários, podemos lutar para conseguir o cbd e fazer uma tentativa, desde que obedecidos os critérios de refratariedade e seguindo as recomendações da ANVISA. O cnb não deve ser visto como a solução final. É mais uma tentativa para casos graves. Se na epilepsia, como vocês podem ver no texto abaixo, os resultados são modestos, pode ser que para tiques seja semelhante. É natural que famílias e portadores de tiques graves se desesperem e busquem pela cura ou soluçao milagrosa. Mas cabe a nós médicos sermos prudentes, pesar riscos e beneficios e oferecer aos pacientes informação de qualidade para que cada um opte pelo que achar melhor para si. 
Abaixo, o texto:   

Nota oficial da ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA
USO DO CANABIDIOL EM EPILEPSIA
A Academia Brasileira de Neurologia – ABN através de seu departamento científico – DC de Epilepsia e a LIGA BRASILEIRA DE EPILEPSIA – LBE, respaldada pela Liga Internacional contra Epilepsia – ILAE, posiciona-se quanto ao uso do canabidiol (CBD) em epilepsias de difícil controle.
O CBD é o principal componente não psicoativo da cannabis, com reconhecido efeito antiepiléptico porém com mecanismo de ação, segurança a longo prazo, propriedades farmacocinéticas e interações com outros fármacos, ainda obscuros. As pesquisas clínicas bem conduzidas metodologicamente são limitadas, pois há restrição legal ao uso de medicamentos derivados do cannabis, embora o CBD não possua propriedades psicoativas.
Dr. Orrin Devinsky, médico da New York University School of Medicine foi autorizado pelo FDA a conduzir um estudo aberto com um produto contendo 98% de CBD cujo nome comercial é Epidiolex fabricado pela GW Pharmaceuticals. Neste estudo, Dr. Devinsky administrou inicialmente uma dose de 5 mg/kg/dia associado aos medicamentos que o paciente já utilizava. A dose diária foi gradualmente aumentada até o máximo de 25 mg/kg/dia. Os resultados dos primeiros 23 pacientes, cuja média de idade foi de 10 anos, demonstraram que 39% dos pacientes tiveram redução de 50% de suas crises. Apenas 3 dos 9 pacientes com síndrome de Dravet (um tipo de epilepsia muito grave da infância) obtiveram controle total das crises e 1 dos 14 pacientes com outras formas de epilepsia. Os efeitos colaterais mais comuns foram sonolência, fadiga, perda ou ganho de peso, diarreia e aumento ou redução do apetite. Todos os pacientes recebiam mais de um fármaco antiepiléptico. Os resultados preliminares mostraram uma redução de 50% de crises em cerca de 40% dos pacientes. Tal resultado não difere dos resultados disponíveis na literatura dos mais de 20 fármacos antiepilépticos disponíveis no mercado.
As populações expostas ao CBD são compostas por pacientes com síndromes epilépticas heterogêneas que não responderam a qualquer outro fármaco, ou tiveram sérios efeitos colaterais com os medicamentos disponíveis no mercado. Neste cenário, um composto que tenha qualquer efeito benéfico torna-se potencialmente útil.
Os dados científicos até agora disponíveis permitem concluir que o canabidiol não tem o efeito milagroso para todas as formas de epilepsia como evocado pelos leigos em relação a qualquer outro fármaco disponível no mercado, mas poderá desempenhar um papel importante no tratamento de epilepsias muito difíceis, em casos específicos, ainda não definidos cientificamente.
Enfatizamos que o canabidiol terá aplicabilidade dentro do cenário das epilepsias intratáveis, de dificílimo controle, possivelmente com excelente resposta em alguns casos, razoável resposta em outros e nenhuma resposta em alguns, como observado com o uso de outros fármacos. Um dos exemplos similares é a vigabatrina, fármaco antiepiléptico com excelente resposta terapêutica para síndrome de West por esclerose tuberosa.
A ABN e LBE solidariza-se com as famílias das crianças e adultos com epilepsia refratária, resistente aos fármacos antiepilépticos, compartilha e reconhece a realidade de que em muitos casos o médico assistente não possui opção terapêutica a oferecer, mas acredita que a segurança e eficácia do CBD necessitam ser melhor estabelecidas por estudos bem conduzidos, uma vez que os dados disponíveis na literatura atual não preenchem os critérios científicos exigidos para que tal composto seja utilizado como medicamento de forma indiscriminada. Ressalta também que o uso recreativo de cannabis para epilepsia é completamente contra-indicado.
São Paulo, 11 de dezembro de 2014
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3 comentários:

  1. Cara Dra. Ana Hounie. Passei 5 anos da minha vida acreditando que a gagueira do meu filho, hoje com 10 anos, seria passageira e que gradualmente desapareceria ao longo do seu desenvolvimento. Mas agora, pesquisando em sites internacionais, descobri que os tiques que acompanham as travadas de fala dele podem na verdade ser sintoma de uma doença mais refratária chamada síndrome de Tourette. Por causa da falta de informação da fonoaudióloga que o atendia, que dizia que o problema dele era uma simples gagueira "emocional" (segundo ela, "facilmente tratável"), subestimei a dificuldade do meu filho e agora não sei mais o que fazer. Depois de ter perdido esse tempo crucial por conta do despreparo dela, que infelizmente nunca tinha ouvido falar de síndrome de Tourette (muito menos sabia que, entre os possíveis tiques causados pela doença, a gagueira pode estar presente), estou muito aflita e sem saber mais de que forma ajudá-lo. O que ainda posso fazer por ele nessa situação e com essa idade (10)? Ele ainda pode se curar? Obrigada. Atenciosamente, Caroline Dechamps, Rio de Janeiro (RJ)

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  2. Nunca é tarde demais. leve ele a um psiquiatra infantil para ver se são tiques e a um fono que entenda de Tourette.

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  3. Meu Tourette também tem o mais complicado de todos os sintomas da síndrome: a gagueira. Mais do que os tiques, é ela que me faz passar por meus piores vexames. Não sei como ainda aguento viver assim. Ouvi dizer que este problema pode ser aliviado com o uso de canabidiol. Gostaria de saber se, depois da nova resolução da Anvisa que liberou a venda controlada do medicamento em todo o território nacional, poderei finalmente ter acesso a um tratamento que torne minha vida menos parecida com uma filial do inferno. Com 21 anos, ainda tenho razão para ter esperança?

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